Uma professora de filosofia e educação chega à conclusão, ao longo do semestre e junto às preocupações de seus alunos, que se existe uma crise na educação como tanto se fala por aí, ela deve estar relacionada a uma crise de valores. "Uma educação sem crises seria aquela em que se buscaria ensinar e formar o ser humano", pondera com seus alunos.
Um tanto perplexa, a mesma, agora repórter deste jornal, escuta de uma de suas fontes: "Seria tão bom para o mundo se, no futuro, pudéssemos aliar espiritualidade e educação sem ter uma religião fixa, já que a espiritualidade trabalha os valores humanos". A expectativa é de Aparecida Morato, mãe de João Pedro Morato, 8, ao falar sobre os benefícios que seu filho experimentava a partir das vivências com o kundalini yoga.
Minutos depois, a mesma repórter escuta de uma professora de yoga: "A gente tenta trabalhar com as crianças valores que são universais. Independente do tempo, do espaço e das circunstâncias, as crianças poderão se conectar a esses valores e viver graciosamente essa realidade", explica Cristiana Giroletti que, ao lado de Katia Lana Cunha, desenvolve trabalho de kundalini yoga para crianças na Creche das Rosinhas, no bairro Serra, trabalho que refletiu direta e positivamente no comportamento dos menores.
Ao longo das conversas com pais e professores de meninos e meninas entre 3 e 12 anos, a formação de princípios e valores humanos se mostra como elemento fundamental do aprendizado a partir do contato com práticas holísticas como yoga, meditação ou tai chi chuan. Satisfeitíssimos com os resultados, eles destacam o valor da autonomia, da tranquilidade, concentração, equilíbrio, clareza mental e vigor físico conquistados gradualmente pelas crianças.
"Enquanto profissional e enquanto mãe, observo que as crianças e adolescentes têm muita intelectualidade e acesso a informação, mas muitos têm uma respiração inadequada e uma mente descontrolada, falta força no sistema nervoso", analisa Márcia Coelho Penna, mãe, professora de yoga e fisioterapeuta que trabalha com reorganização neurofuncional. "Essas práticas vêm dando autonomia, dignidade e valores que vão sustentá-los numa adolescência e vida adulta mais consciente", complementa Márcia.
Seu filho, João Paulo, 9, faz aulas de kundalini yoga desde os 5 anos. Ele começou acompanhando a mãe às aulas regulares. Depois de alguns anos, entrou para a turma de crianças e, desde o meio do ano passado, tem frequentado o programa extra curricular da Abaky (Associação Brasileira dos Amigos do Kundalini Yoga), o qual inclui além da yoga, aulas de humanologia (psicologia kundalini), gakta (espécie de luta indiana), música e alimentação natural. "Ele gosta muito. Parece que já veio com essa linguagem. Ele é muito sensível e muito desafiador. Vejo que ofereci para ele uma coisa que já vinha construindo dentro dele", explica Márcia.
A naturalidade como o menino fala da yoga mostra como a prática e os princípios do kundalini já se transformaram em parte de sua vida. O menino adotou o nome espiritual (Siri Chand Singh - a luz que reflete a luz do sol) e o uso do turbante. Quanto ao acessório, diz que, apesar de preferir o azul, tem vários modelos e tem aprendido com a mãe a colocá-lo. "A gente usa o turbante para ficar mais concentrado, mais focado nas coisas que está fazendo", ensina.
Com João Pedro Morato, a "iniciação" foi diferente. Ele chegou à prática de kundalini yoga a partir da experiência com um acampamento da Abaky para crianças. A mãe, Aparecida, havia assistido a uma palestra sobre educação e espiritualidade da qual havia gostado muito. Pouco tempo depois, soube do acampamento e revolveu fazer uma proposta ao filho. "Foi muito desafiador para ele", conta.
"Foi um mundo novo que se abriu na vida do meu filho. Ele voltou do acampamento muito perplexo com tudo o que viu e viveu, com a autonomia que se criou para ele, com os desafios que teve que enfrentar", lembra a mãe. Depois desta vivência, João Pedro entrou para o programa extra curricular da associação. De saldo, o menino desenvolveu muito mais confiança, força e coragem, avalia a mãe. "Ele começou a se apropriar mais de seus gostos, buscando fazer aquilo que gosta".
Fique por dentro
Yoga
O que é: A palavra yoga significa união. É uma disciplina hindu que visa estabelecer o equilíbrio entre a mente e o corpo pelo desenvolvimento da consciência corporal. É composta por mantras (cantos devocionais), pranayama (exercícios de respiração), mudras (posição de mãos), ásanas (posturas corporais)
A partir de qual idade: 2 anos e meio
Benefícios: Traz equilíbrio, força física, controle mental, aprimora coordenação motora e regula a respiração. Ao trabalhar com desafios, proporciona coragem, determinação e clareza mental.
Meditação
O que é: sentar-se em silêncio. A busca do autoconhecimento a partir do esvaziamento da mente.
A partir de qual idade: 6 anos
Benefícios: Equilibra as emoções, nos põe em contato com nosso subconsciente, provoca o relaxamento através do "esvaziamento" de nosso campo mental, sua prática constante desenvolve a concentração e o autocontrole, equilibra a ansiedade, além de nos direcionar por um caminho espiritual mais consistente e realizador.
Tai Chi Chuan
O que é: Uma arte marcial milenar que emprega ao mesmo tempo esforço e suavidade. Utiliza-se o corpo como um todo, trabalhando músculos e tendões, com posturas que exigem muita dedicação e disciplina
A partir de qual idade: 4 anos
Benefícios: fortalece os músculos e tendões, facilita o alongamento do corpo, ativa a circulação, promove maior concentração e tranquilidade.
Gatka
O que é: Uma arte marcial milenar originária de diversas tradições e desenvolvida posteriormente pelos Sikhs indianos. Significa "a liberdade de quem pertence a uma graça" e possui uma base forte no alinhamento entre o plano físico e espiritual
A partir de qual idade: 7 anos
Benefícios: Traz um enriquecimento físico, mental e de consciência espacial, equilíbrio da mente, perda de medos, receios, bloqueios emocionais, trabalha no equilíbrio dos hemisférios do cérebro, e oferece uma melhor maneira de lidar com os problemas e estresses do cotidiano.
Fonte: Jornal Pampulha