Brahma é o primeiro deus da Trimurti, a trindade hindu mas não recebe tanta importância como os outros dois: Vishnu e Shiva. Brahma é considerado pelos hindus a representação da força criadora ativa no universo. Considerado o deus supremo, Brahma surgiu, segundo os hinduístas, como encarnação do espírito universal Brahman. Praticamente não é cultuado hoje, por ser "uma força tão sutil que nem consegue ser imaginada por quem não tem elevação espiritual", segundo a professora Louris Esper. Brahma é representado com quatro cabeças, que fazem referência aos quatro pontos cardeais. Com a diminuição de seu culto, Vishnu e Shiva tornaram-se as duas principais divindades do hinduísmo atual. O contraponto feminino de Brahma aparece como sua esposa, Sarasvati, deusa das artes e criadora do sânscrito, a língua das escrituras sagradas hindus. Os fiéis dedicam a ela um festival na primavera, o Vasant Panchami.
A visão de universo pelos hindus é cíclica. Depois que um universo é destruído por Shiva, Vishnu se encontra dormindo e flutuando no oceano primordial. Quando o próximo universo está para ser criado, Brahma aparece montado num Lótus, que brotou do umbigo de Vishnu e recria todo o universo.
Depois que Brahma cria o universo, ele permanece em existência por um dia de Brahma, que vem a ser aproximadamente 4.320.000.000 anos em termos de calendário hindu. Quando Brahma vai dormir, após o fim do dia, o mundo e tudo que nele existe é consumido pelo fogo, quando ele acorda de novo, ele recria toda a criação, e assim sucessivamente, até que se completem 100 anos de Brahma, quando esse dia chegar, Brahma vai deixar de existir, e todos os outros deuses e todo o universo vão ser dissolvidos de volta para seus elementos constituíntes.
Brahma é representado com quatro cabeças, mas originalmente, era representado com cinco. O ganho de cinco cabeças e a perda de uma é contado numa lenda muito interessante. De acordo com os mitos, ele possuía apenas uma cabeça. Depois de cortar uma parte do seu próprio corpo, Brahma criou dela uma mulher, chamada Satrupa, também chamada de Sarasvati. Quando Brahma viu sua criação, ele logo se apaixonou por ela, e já não conseguia tirar os olhos da beleza de Satrupa. Naturalmente, Satrupa ficou envergonhada e tentava se esquivar dos olhares de Brahma movendo-se para todos os lados.
Para poder vê-la onde quer que fosse, Brahma criou mais três cabeças, uma à esquerda, outra à direita e outra logo atrás da original. Então Satrupa voou até o alto do céu, fazendo com que Brahma criasse uma quinta cabeça olhando para cima, foi assim que Brahma veio a ter cinco cabeças. Da união de Brahma e Satrupa, nasceu Suayambhuva Manu, o pai de todos os humanos.
Conforme a crença hindu, no inicio tudo era escuridão e silêncio. O Universo parecia mergulhado num grande sono até que o Brahman mudou este estado de coisa. Primeiro, fez surgir as “Águas Cósmicas” e nelas depositou uma semente.
Com o passar do tempo a semente se transformou num resplandecente “Ovo Dourado”. Brahman, que não tinha forma passou, então, um “Ano Cósmico” dentro do “Ovo Dourado” e dele emergiu na forma de uma divindade.
Esse novo deus ganhou o nome de Brahman (sem o “N” final) e foi incumbido de uma missão especial: criar o Mundo e suas criaturas. (Seria essa a matriz do Demiurgo referido por Platão?).
Mal nasceu, já começou a cumprir sua tarefa. Conta-se que quando o “Ovo” se quebrou, a casca de cima originou a esfera celeste, enquanto que a inferior formou a esfera terrestre.
O primeiro ato do Deus Criador foi dar forma ao Céu e, assim, manter as metades separadas. Na seqüência, criou os seres humanos, os animais, os vegetais e tudo mais que há no Universo. Por estes feitos, Brahman ganhou destaque no panteão hindu e ao lado de Shiva e de Vishnu passou a integrar a Trimurti.
Brahman, além de Criador, é o principio de harmonia e equilíbrio entre Vishnu (Deus da Preservação) e Shiva (associado à destruição). Cada um representando um aspecto do Universo.
Em relação ao nascimento de Brahman, deve-se registrar que a história do “Ovo Cósmico” é apenas uma dentre várias outras que narram a origem e o papel desse deus.
Noutra versão, ele teria nascido de uma flor de lótus que brotou do umbigo de Vishnu, para só então dar inicio ao seu trabalho de criação, o que implica em certa subordinação de Brahman em relação a Vishnu. Também se diz que Brahman criou uma filha do próprio corpo, por quem se apaixonou e se uniu dando origem ao primeiro homem, chamado de Manu.
O Deus Brahman é descrito como um homem de pele vermelha, dotado de quatro braços e de quatro cabeças, as quais ficam voltadas para os quatro pontos (cardeais) do Universo. Com seus oito olhos, mantém-se atento à sua Criação e montado num “Ganso Sagrado” percorre o Céu para observar o Mundo.
Nas mãos carrega vários objetos:
1°) um rosário que serve para manter a ordem no Universo;
2°) um pote de água que utiliza para criar vidas;
3°) uma flor de lótus e os VEDAS (aliás, geralmente, seu trono é representado por esta flor). Sentado nela, Brahman irradia a energia da Criação, enquanto cada uma das quatro cabeças recita um dos VEDAS.
Esta forma de representação ocorre, porque durante sucessivas gerações os ensinamentos ali contidos foram transmitidos oralmente e, segundo a tradição, esta forma de transmissão teve, no inicio, o auxilio de Brahman.
Segundo alguns teólogos, os VEDAS originaram-se do sopro de Vishnu e Brahman foi o primeiro a recebê-los com a incumbência de transmiti-los para o mundo dos deuses e para o mundo dos homens. Ainda segundo a tradição, os sacerdotes brâmanes nasceram da boca do deus Brahman e foram os únicos a receber (dele) os ensinamentos contidos nos VEDAS. Estes sacerdotes eram considerados os intermediários entre os humanos e os deuses (aproximadamente como padres, pastores e rabinos) e, destarte, cabia-lhes difundir estes ensinamentos ao povo.
Esta importância culminou na formação do chamado “Hinduismo Bramânico”, onde os Brâmanes ocupavam a casta mais elevada e Brahman era tido como o deus principal.
Apenas no século XIX dC. é que esta crença passou a ser chamada de Hinduísmo e atualmente o deus Brahman não é mais objeto de uma adoração tão profunda.
Com a ascensão de Shiva e de Vishnu ele foi relegado a um segundo plano. Porém, uma lenda protagonizada pelo sábio Brahmarishi Bhirgu propõe outra versão para o fato de não serem comuns as homenagens a Brahman:
conta-se que, certa vez, os Seres Humanos decidiram organizar um grande ritual que deveria ser presidido pelo mais importante dos deuses e o escolhido foi Brahman. Porém, quando o sábio tentou convidá-lo, o deus estava atento à música cantada por sua esposa Saravasti e não ouviu os chamados. Revoltado, Bhirgu amaldiçoou Brahman a nunca mais ser venerado.
Lendas e maldições à parte, o fato de ser um “deus criador” não lhe garantiu o posto mais alto na hierarquia celeste; porque assim como os outros, ele representa apenas um dos aspectos de Brahman (o Ser Supremo). Neste caso, seria a manifestação masculina e criadora de uma Entidade Abstrata, neutra, sem forma.
Quando comparado aos outros deuses da Trimurti, Brahman assume uma posição secundária (numa referência à pouca importância da matéria que criou) e a própria grafia de seu título “deus criador” sofre restrições. Na Índia, as palavras “criador” e “deus” são escritas em letras minúsculas o que significa que aquele que “cria” não é uma divindade que detenha o poder total. Ele “cria” apenas pela graça de Vishnu ou de Shiva. É, portanto, um mero cumpridor de ordens superiores. Brahman também não é um deus eterno. Os hindus calculam que ele existirá durante “cem anos celestiais” (aproximadamente quatro milhões de anos da Terra) e quando ele findar, o Universo que criou acabará. Então, outro Universo nascerá e outro deus demiurgo ocupará o posto de Criador.
Outrossim, um aspecto que deve ser mencionado relaciona-se com o fato de Brahman sempre ser representado com as “Quatro Cabeças”:
Uma história de amor e de incesto “explica” a origem destas “Quatro Cabeças”. Sentindo-se sozinho, criou de seu próprio corpo uma deusa chamada de Saravasti (Deusa da sabedoria). Ao perceber os olhares maliciosos de Brahman, ela se moveu para a direita e com isso fez nascer uma cabeça no mesmo lado do corpo do deus. Depois, correu para a esquerda e para trás e mais duas cabeças emergiram em Brahman; quando Saravasti fugiu para o céu uma quinta cabeça brotou, mas esta última foi queimada por Indra como castigo pelo desejo incestuoso. Por fim, Saravasti aceitou casar-se com Brahman e dessa união é que se originaram as criaturas vivas.