Os freqüentadores do Centro de Reabilitação Louis Braille, em Rondonópolis, são exemplos de que sempre é possível melhorar, aprender mais e ser cada vez mais autônomo em qualquer tipo de situação. Eles são alunos da entidade que desde julho de 1983 atende e apóia deficientes visuais (total ou parcial) de famílias de baixa renda não só da cidade, mas de outros locais da região Sul, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o exercício dos direitos como cidadãos. Os alunos têm de zero a 80 anos de idade.
A rotina começa cedo, às 7h, com o café da manhã servido no Centro, localizado no Jardim Luz D’Ayara, na região da Vila Operária. São 105 pessoas que freqüentam diretamente e outra dezena de moradores que estão ligados indiretamente à entidade, como os familiares. Além de três refeições diárias, o local proporciona uma gama de atividades, divididas em três setores distintos, o pedagógico, de reabilitação e o profissionalizante. As atividades de educação com reabilitação são orientadas por profissionais de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e monitora de yoga.
A manutenção do Louis Braille, bem como a garantia de ter profissionais para o atendimento dos alunos é possível graças a parcerias que a entidade mantém com o governo municipal e estadual, a loja maçônica Estrela do Leste nº 5, a Fundação André Maggi, o Instituto HSBC Solidariedade e a empresa Marketing Mercado, através de eventos sociais como bingos e churrascos, além de sócios contribuintes que fazem doações mensais.
A diretora da entidade, Chirlei Daiane da Silva, explica que o convênio com a Fundação André Maggi encerrou em fevereiro e era esta parceria que mantinha os profissionais de saúde. Até julho, comenta, ainda será possível pagá-los através de uma doação, no entanto, depois disso o futuro do Centro de Reabilitação é incerto. “Estamos buscando mais parcerias e tentando conseguir novos projetos junto ao Instituto HSBC Solidariedade”, destacou a diretora.
Nesta semana, o governo do Estado, através do ex-governador Blairo Maggi, assinou um convênio para a aquisição de um ônibus de 45 lugares para a entidade. O transporte dos alunos que hoje é feito com um veículo Kombi será melhorado substancialmente. Isso porque para deslocar todos os dias grande parte dos deficientes visuais para o Centro, a Kombi precisa fazer três viagens. “Acreditamos que o ônibus possa ser comprado em maio ou junho e vai nos ajudar muito”, desabafou Chirlei.
Além do ônibus, a entidade poderá também construir uma quadra poliesportiva. O recurso foi adquirido através de uma emenda parlamentar do deputado J. Barreto. Com a quadra pronta, os alunos poderão praticar o esporte chamado golboll, que é o futebol adaptado para deficientes visuais. Antes, as atividades de educação física só podiam ser praticadas na piscina e no salão que serve como refeitório.
Além da prática esportiva, a entidade oferece mais 21 atividades, que começam com a triagem do aluno, pela qual é possível identificar qual o comprometimento visual e definir os atendimentos primordiais. Os freqüentadores que ainda não sabem ler e escrever em braille são alfabetizados, alguns recebem estímulos na atividade de comunicação e expressão na baixa visão. Há também a prática da matemática através do sorobã, uma espécie de ábaco em braille, a estimulação de crianças de zero a 4 anos, atividades de vida autônoma social, onde os deficientes aprendem atividades domésticas em uma casa montada especificamente para a prática.
Na oficina pedagógica os alunos produzem peças de artesanato que são vendidas em feiras e na própria entidade, e com a prática desenvolvem o tato, a percepção motora e melhoram a renda da família. Na sala de informática, a tecnologia ajuda a proporcionar mais conhecimento. O educando tem disponível um mundo de opções através dos programas adaptados de voz e leitor de tela.
A prática da orientação e mobilidade é essencial para quem tem a deficiência total, principalmente. De acordo com Chirlei, os alunos aprendem a se locomover com bengala e ganham autonomia de vida. O processo pode levar até três anos, dependendo do caso. “Temos cuidado e só liberamos o aluno quando ele está completamente seguro. É uma atividade fundamental”, explica.
Outro exercício muito importante é desenvolvido através do Projeto Luz pela Leitura, onde os monitores leem para os alunos jornais e revistas três vezes por semana para o conhecimento de fatos e notícias em geral. As crianças também são beneficiadas com o “cantinho da leitura”. O coral é outra atividade que beneficia 35 educandos, 18 dos quais também sabem tocar algum instrumento musical.
Dados - A Organização Mundial da Saúde (OMC) estima que aproximadamente 1,7 milhão de pessoas possuem deficiência visual no mundo. Em Mato Grosso, aproximadamente 250 mil pessoas são deficientes visuais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano 2000. Algumas pessoas nascem com a deficiência visual (congênita) e outras desenvolvem ao longo da vida (adquirida).