Eles comem carne vermelha, bebem álcool, fumam cigarros. Têm um cotidiano estressante em meio a buzinas, fumaça e telefones celulares. Não respeitam horários para comer, dormir ou ir ao banheiro. Vêem o tempo passar num átimo, regidos pela pressão insana de um trabalho competitivo. Enfim, são pessoas que levam uma vida "normal" em qualquer cidade grande.
Quando chega o fim de semana, entretanto, esses "urbanóides" buscam refúgio em paragens mais tranqüilas e distantes o suficiente da metrópole para constatar que, sim, o chão é mesmo feito de terra e o horizonte ainda existe atrás dos outdoors e arranha-céus. Lá, durante dois dias, não fumam, não bebem, optam por uma alimentação saudável, meditam, caminham, fazem oferendas a deuses e experimentam as mais inusitadas formas de terapias para, na segunda-feira, retornar ao cotidiano caótico da babilônia.
"É mais difícil buscar o equilíbrio na cidade grande", diz a psicóloga Mara Zeyn, 27, depois de fazer uma terapia "watsu" (uma espécie de shiatsu aplicado dentro da água) no Hotel Ponto de Luz, em Joanópolis, no interior de São Paulo. Escolhido pela psicóloga para ser seu "refúgio de fim de semana", o lugar oferece alimentação vegetariana e programas de meditação, massagem e banhos de ofurô, entre outras terapias relaxantes.
"O difícil é inserir essas práticas na rotina. Aqui não tem carne vermelha, só peixe e frango. Como muito mais verduras e sementes, tomo suco de clorofila, coisas das quais eu nem chego perto em São Paulo", afirma a paulistana, que evita comer tomate na capital por conta dos agrotóxicos. "Gosto muito de carne vermelha, mas estou tentando comer menos. Aqui eu consigo comer proteína de soja, mas em São Paulo não."
Outra mudança de hábito aparece na hora de fumar. Quando está em Joanópolis, a psicóloga consegue estabelecer o limite de apenas um cigarro por dia. "Tem certos hábitos que não combinam com esse lugar. A ansiedade fica mais controlada. Fumar fica incoerente demais. Na cidade, eu fumo muito, de meio até um maço por dia", admite Mara.
Esse tipo de retiro é chamado pelo antropólogo José Guilherme Magnani, coordenador do núcleo de antropologia urbana da USP, de "comunidade efêmera". "Dura enquanto dura o fim de semana, mas não deixa de ser interessante por conta disso", afirma Magnani, que no final dos anos 90 freqüentou diversos refúgios alternativos enquanto escrevia o livro "Mystica Urbe: Um Estudo Antropológico sobre o Circuito Neo-Esotérico na Metrópole" (Studio Nobel, 1999, 143 págs., R$ 33). "Esses retiros são muito autênticos, as pessoas se engajam mesmo, seguem as regras, fazem os exercícios, acordam cedo, comem comida natural, vão à cachoeira", diz.
Sobre as críticas à falta de continuidade dessa fuga transitória da metrópole, Magnani afirma que "esse universo esotérico, alternativo e místico admite vários graus de adesão. A síntese é do sujeito. Mesmo que coma carne durante a semana, é muito bom que ela faça um retiro vegetariano no fim de semana. Certamente, isso vai ajudar a saúde", diz.
Segundo o antropólogo, essas experiências propõem um uso do tempo livre mais saudável, criativo e menos ditado pela indústria do consumo.
E esse tal "universo alternativo" não pode ser encarado também como uma onda consumista? De acordo com o antropólogo, o pico desse tipo de prática foi nos anos 90, quando isso apareceu como "uma grande fonte de consumo" que atraía, como em qualquer moda, os oportunistas de plantão. "Passado o modismo, permaneceram aquelas pessoas que continuam buscando essas experiências com uma certa regularidade e as práticas que têm mais substância", acredita.
Quando chega o fim de semana, entretanto, esses "urbanóides" buscam refúgio em paragens mais tranqüilas e distantes o suficiente da metrópole para constatar que, sim, o chão é mesmo feito de terra e o horizonte ainda existe atrás dos outdoors e arranha-céus. Lá, durante dois dias, não fumam, não bebem, optam por uma alimentação saudável, meditam, caminham, fazem oferendas a deuses e experimentam as mais inusitadas formas de terapias para, na segunda-feira, retornar ao cotidiano caótico da babilônia.
"É mais difícil buscar o equilíbrio na cidade grande", diz a psicóloga Mara Zeyn, 27, depois de fazer uma terapia "watsu" (uma espécie de shiatsu aplicado dentro da água) no Hotel Ponto de Luz, em Joanópolis, no interior de São Paulo. Escolhido pela psicóloga para ser seu "refúgio de fim de semana", o lugar oferece alimentação vegetariana e programas de meditação, massagem e banhos de ofurô, entre outras terapias relaxantes.
"O difícil é inserir essas práticas na rotina. Aqui não tem carne vermelha, só peixe e frango. Como muito mais verduras e sementes, tomo suco de clorofila, coisas das quais eu nem chego perto em São Paulo", afirma a paulistana, que evita comer tomate na capital por conta dos agrotóxicos. "Gosto muito de carne vermelha, mas estou tentando comer menos. Aqui eu consigo comer proteína de soja, mas em São Paulo não."
Outra mudança de hábito aparece na hora de fumar. Quando está em Joanópolis, a psicóloga consegue estabelecer o limite de apenas um cigarro por dia. "Tem certos hábitos que não combinam com esse lugar. A ansiedade fica mais controlada. Fumar fica incoerente demais. Na cidade, eu fumo muito, de meio até um maço por dia", admite Mara.
Esse tipo de retiro é chamado pelo antropólogo José Guilherme Magnani, coordenador do núcleo de antropologia urbana da USP, de "comunidade efêmera". "Dura enquanto dura o fim de semana, mas não deixa de ser interessante por conta disso", afirma Magnani, que no final dos anos 90 freqüentou diversos refúgios alternativos enquanto escrevia o livro "Mystica Urbe: Um Estudo Antropológico sobre o Circuito Neo-Esotérico na Metrópole" (Studio Nobel, 1999, 143 págs., R$ 33). "Esses retiros são muito autênticos, as pessoas se engajam mesmo, seguem as regras, fazem os exercícios, acordam cedo, comem comida natural, vão à cachoeira", diz.
Sobre as críticas à falta de continuidade dessa fuga transitória da metrópole, Magnani afirma que "esse universo esotérico, alternativo e místico admite vários graus de adesão. A síntese é do sujeito. Mesmo que coma carne durante a semana, é muito bom que ela faça um retiro vegetariano no fim de semana. Certamente, isso vai ajudar a saúde", diz.
Segundo o antropólogo, essas experiências propõem um uso do tempo livre mais saudável, criativo e menos ditado pela indústria do consumo.
E esse tal "universo alternativo" não pode ser encarado também como uma onda consumista? De acordo com o antropólogo, o pico desse tipo de prática foi nos anos 90, quando isso apareceu como "uma grande fonte de consumo" que atraía, como em qualquer moda, os oportunistas de plantão. "Passado o modismo, permaneceram aquelas pessoas que continuam buscando essas experiências com uma certa regularidade e as práticas que têm mais substância", acredita.