Templo esotérico vira patrimônio cultural de São Paulo

Nascida da vontade de um operário imigrante português na virada do século 20, estruturada como as tradicionais sociedades secretas e fortalecida por um caldeirão espiritual onde cabem espiritismo, cristianismo, teosofia, filosofia, budismo e hinduísmo, a primeira ordem esotérica do Brasil atravessou o século e manteve seguidores.

O prédio que abriga a ordem, no entanto, resistiu menos ao tempo. A fachada, que ostenta símbolos ocultistas que intrigam os passantes de uma rua secundária do bairro da Liberdade, região central de São Paulo, é sustentada com a ajuda de arames.

Há um mês, veio a boa nova: a Secretaria de Estado da Cultura publicou resolução que tomba, por decisão do Condephaat, o edifício da rua Rodrigo Silva onde está instalado o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.

"O tombamento ajuda na esperança de conseguirmos patrocínio", afirma Élcio Lima, representante do círculo.

Os ornamentos tombados incluem estátuas, baixos relevos, quatro atlantes --seres gigantes que, segundo a teosofia, viveram há 18 milhões de anos na Atlântida-- e três mísulas (enfeites) com cabeças de mulher, símbolos de fraternidades ocultistas.

CRIAÇÃO

O prédio foi erguido em 1925, mas o círculo foi criado em 1909 por Antonio Olivio Rodrigues, tido como a principal referência da ordem.

Há outros três patronos: o escritor ocultista francês Eliphas Lévi (1810-1875), o líder espiritual americano Prentice Mulford (1834-1891) e o monge e filósofo hindu Swami Vivekananda (1863-1902).

A linha mestra é a força do pensamento em comunhão. Há rituais de meditação coletiva, em sintonia com centros em todo o país, chamados "tattwas" ou "pontos de luz".

"No plano espiritual, não há distância", diz Lima. O lema da ordem é "Harmonia, Amor, Verdade e Justiça".

Outra questão importante é a da simbologia. O círculo esotérico utiliza símbolos que considera universais, que não pertencem a religiões ou seitas, embora sejam usadas por elas.

Na biblioteca, eles estão em toda a parte, rejuvenescidos por uma reforma feita em 2009, centenário do círculo.

Nos anos 1940, a ordem teve 70 mil filiados, inclusive em outros países. Hoje, tem cerca de 5.000. Na quinta-feira, 16 participavam de uma das reuniões do círculo.

Um deles era o comerciante Vitor Moreira, 55. Católico, já frequentou grupos de gnose e de teosofia, além da Seicho-No-Iê. "Venho pela ânsia de conhecimento do divino que há dentro da gente."

Fonte: FOLHA, por José Benedito da Silva