As pretensões da ciência - Heinrich Zimmer

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No meu tempo de estudante geralmente se considerava que a frase "filosofia indiana" era contraditória, uma contradictio in adjecto, comparável a um absurdo tal como "madeira de ferro”. A "filosofia indiana" era algo que simplesmente não existia, como as "calendas gregas" ou, no dizer dos lógicos hindus, os "chifres de uma lebre" ou o "filho de uma mulher estéril". Dentre todos os professores que ocupavam cátedra de filosofia naquela época, havia apenas um solitário entusiasta, um discípulo da Schopenhauer, o velho Paul Deussen, que regularmente dava aulas sobre filosofias da Índia. É claro que, até certo ponto, os orientalistas proporcionavam informações preparando edições de textos, auxiliados, vez por outra, por um aluno, mas nunca se preocupavam em investigar o problema da existência - ou não - de tal coisa chamada "filosofia indiana". Tudo quanto encontrassem em seus documentos o interpretavam sobre uma base filológica, passando sem delongas para a linha seguinte. Enquanto isso, os outros professores de filosofia concordavam unanimemente - uns de maneira polida, outros nem tanto - que tal coisa como filosofia, no sentido exato do termo, simplesmente não existia fora da Europa. E, conforme veremos, esta atitude tinha suas razões do ponto de vista técnico.