Desde a estréia da nova novela da Rede Globo, Caminho das Índias, o interesse pela cultura indiana, inclusive a dança, tem crescido imensamente. “Muita gente passou a me procurar querendo aulas de Bollywood”, conta Cassiana Rodrigues, professora e assistente coreográfica da novela. O Bollywood é o resultado da fusão de danças indianas clássicas e folclóricas, sendo o Bhangra – dança folclórica - seu principal elemento. “Acredito que toda essa curiosidade seja passageira, mas serve para despertar o olhar das pessoas para uma coisa nova”, diz a coreógrafa. Mas cuidado! Aproveitando a onda de dança indiana propiciada pela novela, há muitos que se dizem capazes de lecionar uma aula de qualidade. “Tem muita propaganda enganosa por aí. Professores de dança do ventre que fazem uma aula de dança indiana e acham que podem ensinar”, conta Sandra Regina Rodrigues, aluna da Natyalaya, Escola de Danças Clássicas Indianas, em São Paulo, e dançarina há quatro anos.
A procura pela dança clássica indiana, porém, não é tão grande como pelo estilo Bollywood. “Acredito que isso aconteça porque o ocidental não tem a paciência necessária para aprender. O curso para formação em dança clássica demora, no mínimo, oito anos. Além disso, é importante conhecer sobre a cultura, a filosofia e a maneira de ser indianos”, explica Patrícia Romano, professora de dança indiana bharathanatyam e dona da Escola Natyalaya. Silvana Duarte, dançarina do estilo Odissi e dona da Padmaa, Arte e Cultura, em São Paulo, explica que “além da técnica exigida para a plena realização dos movimentos, toda a linguagem gestual serve de suporte para a narrativa de mitos e histórias Índia.”
Hoje, no Brasil, são praticados cinco dos sete estilos de dança indiana existentes: bharathanatyam, odissi, kuchipudi, kathak e mohiniyattam (o kathakali e o manipuri nunca foram praticados aqui). Em 1996, Patrícia trouxe o bharathanatyam para o país. Sendo o estilo mais conhecido e praticado na Índia, caracteriza-se pelas poses esculturais, pela graça e pureza. O primeiro estilo a ser praticado no país, porém, foi o odissi. “Madhavi Mudgal foi a primeira dançarina de odissia se apresentar no Brasil com grande repercussão. Dançarinos de estilos diferentes também estiveram por aqui, mas sem muito alarde”, explica Patrícia. O estilo caracteriza-se pelo lirismo, pela movimentação fluida e circular do torso. “O odissipossui uma sinuosidade que os outros estilos não têm”, conta Silvana.
Homem também dança?
Mateus Marques, 17 anos, faz aulas de dança indiana há oito meses. Começou a praticar incentivado pela mãe e, sendo o único menino da classe, prova que a atividade não é privilégio das mulheres. “O bhangra, por exemplo, é um estilo que inicialmente era dançado somente por homens”, conta Silvana.
Segundo Mateus, o mais interessante nas aulas é o controle mental necessário para a prática das danças. “É preciso estar concentrado em tudo. Os passos são muito difíceis”, conta. Patrícia afirma que a dança indiana é fruto de um conhecimento milenar, transmitido pelo sistema guru-shishya parampara - linhagem mestre-discípulo – e pode ser útil, não apenas para o condicionamento físico, como também para o controle mental e o crescimento espiritual. “Eu gostaria imensamente que a dança clássica tomasse o mesmo caminho que o Yoga tomou no Brasil. Gostaria que as pessoas a levassem a sério e a praticassem como um caminho para o autoconhecimento e não simplesmente como diversão”.
Realmente, a dança indiana está mais próxima do Yoga do que do entretenimento. “Quanto maior o conhecimento que se tem sobre o próprio corpo, a própria mente, mais profundo se vai. Cada vez mais é possível entender que apenas aquela fração de segundo é o que realmente existe”, explica Patrícia. Segundo ela, assim como nos asanas de Yoga, nos adavus – exercícios – da dança indiana , somente através da entrega total da mente, corpo e coração se obtêm bons resultados. “E tem mais: não se torne orgulhoso com os resultados obtidos, pois amanhã você simplesmente cai durante o exercício. Resultados são apenas momentos. Exigi-se um trabalho gradual: dia a dia, minuto a minuto, segundo a segundo”, completa.