Enquanto as ginásticas trabalham com o movimento, na ioga a pessoa se move também, mas até completar a "ásana" (postura) e aí então fica parada.
O principal papel das "ásanas" é alongar de maneira lenta e relaxada, diz a médica Maria Auxiliadora Craice de Benedetto, que há três anos coordena um programa de ioga no hospital Heliópolis (SP).
Segundo ela, o alongamento de músculos, articulações e ligamentos aciona receptores nos próprios músculos, fazendo com que entrem em contato com áreas do cérebro que controlam a postura e o tônus muscular.
"À medida que há o alongamento, o tônus vai-se adequando até a pessoa conseguir ficar na postura de forma relaxada, sem o menor esforço."
Toda ginástica trabalha com alongamento, mas não dessa maneira. "Na ioga, vai-se aumentando o alongamento com o próprio relaxamento", diz a médica. E, na vida cotidiana, a pessoa percebe que não é preciso fazer tanto esforço ou usar tanta pressão em gestos como segurar uma chave ou abrir uma porta.
Além das posturas, os exercícios de respiração ("pranayamas") também são importantes. Mente perturbada é traduzida em respiração rápida e superficial. Só depois de quebrar esse círculo vicioso pode-se partir para a etapa da meditação.
"O objetivo da ioga não é simplesmente melhorar a postura ou a forma de respirar. Aquietar é o propósito, porque a mente agitada é sujeita a doenças", diz Marcos Rojo.
Mas não adianta falar em chacras ou centros de distribuição de energia, é preciso mostrar as maneiras de chegar a um estado de controle do corpo e da mente. A meditação geralmente encerra as aulas de ioga, e os iniciantes se concentram em algo, como a respiração, por alguns minutos.
Dependendo do empenho de cada um, chega-se a meditar por uma hora, e o grande desafio é manter a mente livre de qualquer pensamento.
Maria Auxiliadora fala de alguns efeitos fisiológicos da combinação respiração controlada/meditação: ela promove uma queda de consumo de oxigênio, como ocorre durante o sono, e por isso pode ser considerada um tranquilizante, útil na redução da ansiedade e na insônia.
Também há estudos mostrando que há uma queda do nível de colesterol nocivo e aumento do benéfico nas pessoas que praticam a meditação com regularidade.
Algumas vezes, é difícil falar em efeitos gerais de ioga, diz o professor José Hermógenes. "Tudo depende do empenho de cada pessoa, eu só posso motivar, indicar os caminhos. Há alunos que, em poucas aulas ou em uma só, percebem que desapareceram todos os sintomas mais incômodos."
Também é preciso estar saturado, desapontado com o mundo, para se chegar à ioga, diz o professor de meditação Luís Louceiro, nascido na África do Sul. Há 19 anos, começou a estudar e praticar ioga.
Até então, não tinha disciplina nenhuma. "Tomava o café da manhã pensando em uma coisa; dirigia o carro pensando em outra, sem depois me lembrar do que havia comido ou do caminho percorrido", conta.
Essa divisão entre o que se faz e o que se sente leva a uma enorme dispersão. "Uma das grandes conquistas da ioga é a capacidade de concentração", diz ele.
Fonte: Folha