São Paulo é uma cidade muito grande, e consequentemente concentra muita riqueza e também muita pobreza. O trabalho social existe há muitos anos, e a maioria das instituições oferece recursos financeiros, assistência médica e psicológica. Após visitar inúmeras instituições e organizações sociais, nós constatamos que a principal dificuldade (uma vez solucionado o problema de prover abrigo, alimentação, assistência médica e roupas) era estimular as crianças a concentrar suas atenções em valores construtivos e pacíficos. O que estava faltando era uma orientação de pessoas capazes, que pudessem oferecer àquelas crianças e adolescentes uma visão maior e melhor da vida.
Logo fomos capazes de obter alguns modestos recursos financeiros através de doações, elaborar um plano de trabalho e formar um grupo de aproximadamente quatorze voluntários para iniciar nossas atividades. Após inúmeras visitas a diferentes instituições sociais, nós decidimos iniciar nosso trabalho com uma creche (Formação XI) mantida pela Fundação Orsa, já que eles estavam buscando maneiras de transmitir valores espirituais e humanitários às crianças. Esta creche acolhe aproximadamente 30 crianças, onde cerca de metade estão entre os 3 e os 5 anos de idade, e a outra metade entre os 6 e os 15 anos de idade. A Fundação Orsa está localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, na rua Barão de Iguape nº 926.
Ensinando a alegria de cantar em nosso centro da arca do Amor em São Paulo
As crianças da creche pertencem a famílias de catadores de papel. O modo deles de ganhar dinheiro veio como uma grande surpresa e choque a todas nós, pois o trabalho deles é controlado por um modelo latifundiário. Um latifúndio é tradicionalmente uma enorme fazenda ou propriedade onde se trabalham trabalhadores contratados, que ainda são muito comum na zona rural do Brasil e nas plantações de seringueira da floresta Amazônica.
Mas ninguém imaginava encontrar algo parecido com este sistema numa metrópole como São Paulo. Lá, os coletores de papel dependem de uma pessoa apelidado de “xerife”, que recebe o material e o vende para as companhias de reciclagem. Assim como no sistema feudal rural, o “xerife” controla as vendas dos produtos e a porcentagem alocada para cada trabalhador. Na zona rural distante do Brasil e dentro de suas florestas, a maioria das famílias não tem bastante dinheiro para pagar suas necessidades básicas como transporte, comida, medicamentos, roupas ou utilidades, assim o "xerife" fornece essas necessidades. Deste modo, as pessoas sempre estão endividadas a ele e de alguma maneira pertencem a ele.
Em São Paulo, alguns grupos de catadores de papel já estão instruídos socialmente, tendo se organizado em cooperativas, e até mesmo compartilhando entre si os cuidados de suas crianças. Entretanto, no bairro Liberdade, as coisas são diferentes. Lá os pais das crianças estão preocupados em ganhar o máximo de dinheiro possível para que possam mudar suas vidas. Não têm muito tempo para cuidarem de seus filhos, que acabam correndo o risco de terminarem indo para as ruas. Este é o motivo de a creche ter sido fundada naquele bairro – oferecer às crianças uma alternativa mais saudável do que a vida nas ruas. Além de oferecer um refúgio seguro, eles também oferecem comida, atividades recreacionais e assistência escolar básica, eles também estão muito interessados no que a Arca do Amor oferece.
As crianças vão voluntariamente de segunda a sexta-feira, voltando para casa à noite e nos fins de semana. E este é o grande desafio da Arca do Amor: oferecer uma diversidade de atividades que os motive a vir para a creche por mais um dia, aos sábados, das 8:30 às 13:00 horas. Todos os voluntários da Arca do Amor percebem o quão importante suas atividades voluntárias sejam disciplinadas, amáveis e confiáveis. As crianças têm expectativas muito altas para este dia especial, e os valores que eles aprendem neste tipo de interação podem mudar completamente suas vidas. É muito importante para eles perceber que as pessoas marcam um dia e um horário fixo para ver uns aos outros, e que todo mundo comparece pontualmente e cheio de boas energias. Isto mostra a eles que uma rotina pode ser algo muito bom, que as pessoas podem ser dignas de confiança, e que eles podem ter uma relação com os outros de uma maneira saudável.
Cantar OM na Fundação Orsa
Nossas atividades atuais incluem meditação, pintura de mandala, modelagem de argila, yoga para crianças, contos (histórias de índios brasileiros, histórias utilizando o método Sathya Sai e a peça “Os Saltimbancos”) com dramatização simultânea com as crianças. Nós também os mostramos como plantar flores e como tomar conta de seus próprios vasos de flores. No natal, decoramos uma árvore e fizemos uma manjedoura e uma Arca de Noé com argila. Nós realizamos atividades pedagógicas com desenho, pintura e colagem. Fizemos mágicas, comemoramos os aniversários das crianças e brincamos com jogos didáticos. Nós cantamos. Oferecemos refeições gratuitas, e o mais importante, compartilhamos momentos de carinho com as crianças."
Fonte: Arca do Amor - http://www.reddelamor.org/arca_del_amor/p_ada_saopaulo_brasil.htm